Nasci Porto! Morrerei Porto!
O meu amor pelo Futebol Clube do
Porto tem origem nos genes do meu avô.
Foi ele que fez de mim, sangue e
coração, um verdadeiro dragão.
Meu avô vivia e sentia o Futebol
Clube do Porto como ninguém.
Era um adepto dito ferrenho de
carne e osso, que até chorava na hora da derrota.
Nunca foi sócio de bancada, mas
via sempre pela TV ou rádio os jogos do clube do seu coração.
Nunca esquecerei a final de 1987
da taça dos campeões europeus entre o Bayern de Munique e o F.C. Porto, estávamos
os dois na cozinha a ver o jogo numa televisão pequena ainda a preto e branco.
Eu vestido com a camisola azul e
branca e sempre durante o jogo agarrado a um cachecol do F.C. Porto e meu avô transpirava
imenso pelos nervos da emoção da partida de futebol.
Depois de estarmos a perder 1 – 0
durante a primeira parte e a tristeza ser enorme em nossos semblantes, na segunda
parte do jogo o argelino Rabat Madjer marca um golo de calcanhar, nós os dois
nos agarramos feitos dois loucos de tanta felicidade.
Meu avô só gritava, “Vai Porto,
nós vamos ser campeões!”.
Eu nunca tinha visto um
acontecimento tão importante em minha vida, era ainda uma criança, mas estava
super feliz pelo meu avô e pelo meu Porto.
Tínhamos empatado com um golo que
jamais esquecerei mas o melhor ainda estaria pra vir quando o pequenino
brasileiro Juary marca o nosso segundo golo quase a terminar os 90 minutos do
jogo.
Foi a festa mais exuberante que
eu recordo ter vivido até hoje em minha vida.
Meu avô foi naquele dia o homem
mais feliz da Europa por ser campeão europeu de futebol pelo clube que ele
amava incondicionalmente.
O Futebol Clube do Porto nunca
tinha ganho nada a nível de competições europeias mas a partir daquele dia se
tornou um dos maiores clubes do futebol europeu e mundial.
Nunca esquecerei as palavras do
meu avô ditas após o final do jogo:
- “Nunca te esqueças deste dia
pois a vida mesmo sendo difícil é feita de esperança. Nunca desistas de sonhar.
Pois eu sempre sonhei que um dia o Porto seria campeão da Europa e hoje já
sonho em sermos campeões do mundo.”
Dito e feito, nesse mesmo ano em
Dezembro, fomos campeões do mundo de futebol.
Nevava imenso em Tóquio – Japão,
na final entre o F.C.Porto e Peñarol (Uruguai) na taça intercontinental entre
clubes.
Eram 3 horas da madrugada em
Portugal e estávamos bem despertos e enrolados por cobertores na cama a ver a
final.
O jogo estava pra não se realizar
devido ao nevão intenso que se fazia sentir no próprio relvado coberto de neve
mas o árbitro decidiu que o jogo deveria começar.
E lá estávamos nós, eu e meu avô colados
à TV emocionados com uma garra imensa de que também hoje seriamos campeões.
O jogo foi muito intenso, mas os
golos de Madjer e do nosso querido Fernando Gomes fizeram com que a nossa
vitória fosse histórica.
Fomos Campeões do Mundo de
Futebol.
Era de madrugada ainda em
Portugal quando terminou o jogo mas meu avô pegou em mim e fomos diretos para a
avenida dos aliados comemorar a vitória em Tóquio.
Nunca tinha visto tanta gente
junta no centro da cidade do Porto, tantos carros desfilando com bandeiras
enormes do F.C.PORTO e as pessoas gritando bem alto o nome do nosso clube.
Sei que ao regressar depois a
casa da festa, disse estas palavras ao meu avô:
- “ Obrigado avô! Amo-te muito!”.
Sei que ele me abraçou imenso e
ambos chorámos de alegria.
Desta história emocionante e
comovente para mim resta-me contar dois pormenores.
O primeiro é que passado uns
meses meu avô comprou dois porta-chaves com o símbolo do F.C. PORTO, um ficou para
ele e outro deu-me como de um tesouro se tratasse.
Esse porta-chaves ainda hoje ando
com ele como um verdadeiro tesouro sentimental do meu avô e do símbolo de amor
que ambos temos pelo F.C.Porto.
Sempre que toco no símbolo do
Porto no porta-chaves me transporta para junto das memórias do meu querido e
amado avô.
O segundo pormenor que me faltava contar desta
história é que passados uns anos desta final histórica, em 1995 conheci
pessoalmente o herói MADJER que estava na minha faculdade numa conferência
sobre Medicina Desportiva.
Estivemos os dois a conversar
durante uns minutos e depois de o abraçar na despedida pedi-lhe um autógrafo
para o meu avô.
Gentilmente concedeu-me esse
gesto amigo que muito agradeci.
Quando cheguei a casa e dei o autógrafo
do MADJER ao meu avô.
Ele sorriu e disse:
-“Obrigado! Vou levar comigo para
o céu!”.
Passados uns meses meu avô morreu
mas ficou em mim muito dele que trago nesta vida.
Hoje, sempre que o PORTO ganha um
sorriso meu voa para o céu para contar como foi a vitória do clube do seu
coração.
Sei que lá do céu ele continua
gritando bem alto; - PORTO!
Obrigado avô por ser portista,
por ser dragão.
SOMOS PORTO!
NellAnjo